Alvorada

27.4.06

Em Cima como em Baixo


Juliano gostava de se divertir sozinho e com os amigos. Por vezes as brincadeiras levavam a zangas e ele já estava habituado. Achava graça a quebrar rotinas e depois voltar a elas ao mesmo tempo que os seus gostos e interesses iam mudando. Implementava por vezes rotinas estranhas na sua vida como a de recusar a cruzar as pernas durante uma semana e se o fizesse, castigava-se. Tinha a sensação de crescer com estes jogos. Gostava de tentar conhecer os seus extremos impressionando algumas pessoas com os seus exageros disparatados. As várias faces da sua vida ganhavam um equilíbrio muito próprio que lhe davam uma normalidade algo colorida.

Lentamente as suas razões começaram a ficar vazias, reduzindo a sua lógica ao mínimo. Os seus sentimentos, que já nem eram muito fortes, pareceram tornar-se só uma luz de presença como que a dizer que lá estavam mas não serviam para nada. Começou a envolver-se em longas discussões sem sentido, para apreciar as emoções que os outros mostravam e que lhe faltavam, mas para ele os resultados finais eram iguais, interessava sim um percurso movimentado. Amigos que chamavam a atenção pelo seu comportamento, encontravam sempre uma teia de confusão e, ou se afastavam imediatamente ou insistiam demais, até ele acabar por se pôr em fuga.

A sua realidade parecia um caleidoscópio sempre em movimento, navegava sem mapas e sem destino. A quantidade de imagens que observava pareciam tentar enviar mensagens aleatórias sem um significado que Juliano pudesse entender. Mergulhava em meditações prolongadas sempre com resultados estranhos e de curta duração, as conclusões que tirava acabavam sempre por se apagar com o tempo. O único sítio aonde parecia estar a chegar era ao isolamento de tudo e de todos. Um dia começou a sentir uma presença na sua vida, desta vez diferente de todas as imagens do seu passado que o tornaram ausente. Continuava a parecer indiferente mas sentia o seu coração a palpitar e aproximou-se muito lentamente. Começou a sentir as reacções dessa pessoa na sua atmosfera, mas talvez pela sua aparente indiferença elas variavam do receio à paixão. Juliano voltou a sentir medo de perder algo mas nunca reagiu aos sinais que pareciam chegar dela, ela que parecia uma paixão com que sempre sonhara, concentrando-se numa aproximação segura e tranquila.

Como o nascer de um dia de primavera, a sua consciência pareceu começar a iluminar-se, ganhando uma existência firme que já não se sujeita a modas e humores, mas que se adaptava às mais diferentes circunstâncias sem nunca perder a identidade.
Tinha atravessado o deserto, uma vida com Amor começava agora.

2 Comments:

  • Hi there!

    Nice story! It's strange to read the story of a character called "Juliano"!

    Blessings,
    Mr. 340!

    By Anonymous Anónimo, at 28/4/06 11:13  

  • Wolf,

    Bom texto. Gostei. Não se lê - ou enfim, eu não leio - muita coisa deste género na internet. E é raro - e sempre gratificante - ver alguém a expôr-se desta maneira, com textos tão intimistas e desta qualidade.
    Recomendo-te que vás ao Memento - está um link no RdM.

    Abraço!

    By Blogger Rantas, at 28/4/06 23:56  

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